
O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, buscou ajudar o então candidato
republicano Donald Trump a vencer as eleições nos Estados Unidos. A
informação é do relatório de uma investigação liderada pelos serviços de
inteligência americanos e foi divulgado na noite da última sexta-feira.
Segundo o documento, o líder russo "encomendou" uma campanha com o objetivo de influenciar a eleição.
Ainda
de acordo com o relatório - de 25 páginas -, o Kremlin desenvolveu uma
"preferência clara" por Trump. Os objetivos da Rússia com isso seriam
"minar a fé do povo americano" no processo democrático do país e
"denegrir" a imagem da adversária democrata Hillary Clinton,
prejudicando sua candidatura e possível mandato.
"Nós
entendemos que o presidente russo Vladimir Putin solicitou uma campanha
para interferir na eleição americana de 2016", dizia o relatório.
Até agora, o governo russo não se manifestou oficialmente, mas o país já havia negado as acusações anteriormente.
O presidente eleito Donald Trump, por sua vez, disse que o resultado da eleição não foi afetado.
Acusações
O
relatório divulgado pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos
não traz provas concretas sobre o papel de Putin na campanha contra
Hillary Clinton, mas afirma que as ações da Rússia incluíram:
- Hackear emails de contas do Comitê Nacional Democrata e de membros da alta cúpula do partido;
- Usar intermediários como WikiLeaks, DCLeaks.com e Guccifer 2.0 para publicar informações adquiridas no hackeamento;
-
Usar propaganda financiada pelo Estado e pagar usuários de mídia
sociais ou "trolls" para fazer comentários desagradáveis sobre Hillary.
Segundo
o documento, Putin apoiava Trump porque ele havia prometido trabalhar
ao lado da Rússia. Além disso, o presidente russo havia tido "muitas
experiências positivas trabalhando com líderes políticos do Ocidente
que, por conta de interesses de negócios, ficavam mais propensos a fazer
acordos com a Rússia - como o antigo primeiro-ministro italiano Silvio
Berluscono e o ex-chanceler alemão Gerhard Schroeder".
Mais
do que isso, Putin também não teria boas relações com Hillary, porque a
considerava responsável por incitar protestos anti-governo em 2011 e
2012 na Rússia.
Os
nomes dos agentes russos responsáveis diretamente pelo hackeamento já
foram identificados pelas autoridades americanas, de acordo com o
documento, mas ainda não foram divulgados.
Em
nota após a divulgação do relatório, Trump evitou criticar a Rússia,
mas afirmou que cultiva um "imenso respeito pelo trabalho e serviço
feitos pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos".
"Enquanto
a Rússia, a China e outros países, outros grupos e pessoas
constantemente tentam quebrar a infra-estrutura cibernética das nossas
instituições, não houve qualquer efeito disso no resultado das
eleições", disse.
"Seja
o alvo nosso governo, as organizações, associações ou empresas, nós
temos que combater agressivamente os ataques cibernéticos. Vou indicar
uma equipe para elaborar um plano nos próximos 90 dias para combater
isso."
Veja os principais trechos do relatório
Envolvimento de Putin"Nós
avaliamos com grande confiança que o presidente russo, Vladimir Putin,
solicitou uma campanha de influência em 2016 para interferir na eleição
presidencial americana, com os objetivos de minar a fé pública no
processo democrático americano, denegrir a imagem da Secretária Hillary
Clinton e prejudicar sua candidatura e potencial mandato."
Preferência por Trump"Nós
também avaliamos que Putin e o governo russo optaram por ajudar a
aumentar as chances de eleger Trump evidenciando um descrédito a Hillary
Clinton e sempre contrastando os dois de uma maneira que a
desfavorecesse. As três agências de inteligência concordam com essa
visão. CIA e FBI têm confiança plena nesse julgamento; a NSA (National
Security Agency) tem confiança moderada."
Por que a Rússia gosta de Trump
"Putin publicamente indicou sua preferência pela política do presidente eleito Trump de trabalhar junto com a Rússia; além disso, políticos pró-Kremlin falavam sobre o que eles viam como uma visão 'apoiadora' do americano ao posicionamento da Rússia com relação à Síria e à Ucrânia. O presidente russo publicamente contrastou a aproximação de Trump com o país com a 'retórica agressiva' de Hillary."
"Putin publicamente indicou sua preferência pela política do presidente eleito Trump de trabalhar junto com a Rússia; além disso, políticos pró-Kremlin falavam sobre o que eles viam como uma visão 'apoiadora' do americano ao posicionamento da Rússia com relação à Síria e à Ucrânia. O presidente russo publicamente contrastou a aproximação de Trump com o país com a 'retórica agressiva' de Hillary."
"Moscou
viu a eleição de Trump como uma forma de obter uma coalizão
internacional anti-terrorismo contra o Estado Islâmico e o Iraque."
Críticas a Hillary"Quando
a Rússia achava que Hillary estava mais propensa a vencer as eleições, a
influência do governo começou a focar mais em 'minar' a futura
presidente."
Por que Putin não gostava de Hillary?"Putin
muito provavelmente queria prejudicar Hillary porque ele a culpou
publicamente desde 2011 por incitar protestos de massa contra seu regime
no final de 2011 e início de 2012. Além disso, ele guarda um rancor por
Hillary por achar que ela tentava 'menosprezá-lo'."
Impacto na eleição
"A inteligência russa obteve e manteve acesso a elementos de várias juntas eleitorais estaduais ou locais dos Estados Unidos."
"O
Departamento de Segurança Interna (DHS) avalia que os tipos de sistemas
que observamos que os russos visaram ou comprometeram não estão
envolvidos na contagem de votos".
Kremlin por trás de tudo
"Nós
entendemos que as campanhas de influência foram aprovadas pelo alto
escalão do governo russo - principalmente aqueles que seriam
politicamente sensíveis."
Hackeamento
"A
Diretoria Geral de Inteligência (GRU) provavelmente começou as
operações cibernéticas com objetivo de interferir na eleição dos Estados
Unidos em março de 2016. Nós entendemos que as operações comprometeram
contas pessoas de email de membros do Partido Democrata e outras figuras
públicas. Em maio, a GRU já havia extraído um grande volume de
informações.
"Nós
avaliamos com alta confiança que o GRU usou o Guccifer 2.0 persona,
DCLeaks.com e WikiLeaks para liberar dados de vítimas do hackeamento
publicamente para meios de comunicação".
Republicanos também foram alvo
"A
Rússia também coletou informações sobre pessoas filiadas ao Partido
Republicano, mas não conduziu uma campanha semelhante contra eles."
Influência
"O
esforço da Rússia para influenciar as eleições presidenciais de 2016
representou uma escalada significativa no nível de atividade e no escopo
do esforço em comparação com outras operações anteriores que visaram às
eleições nos Estados Unidos.
Avaliamos
que Moscou aplicará as lições aprendidas em sua campanha para a eleição
presidencial americana para futuros esforços de influência nos Estados
Unidos e no mundo, inclusive contra aliados dos EUA em seus processos
eleitorais.
Nós
avaliamos os serviços de inteligência russos teriam visto sua campanha
de influência eleitoral nos Estados Unidos como um sucesso por causa de
sua capacidade comprovada para impactar a discussão pública".
Fonte: BBC